Depois de uma boa noite de sono, Laura acordou leve e animada. Era domingo, nove e meia da manhã, o dia mal começara e já havia gente nas ruas, crianças brincando. Levantou, ligou o som no último volume, como sempre gostou de fazer, e foi tomar banho. Colocou uma roupa leve e foi preparar seu café da manhã. Sentada em frente ao balcãozinho que tinha na cozinha, pegou o jornal e passou os olhos por ele, apreciando seu café. A manchete do dia era para chamar mesmo atenção, ainda mais em uma cidade, que era raríssimo acontecer acidentes:
"Acidente na Avenida Principal deixa feridos."
Pois-se a ler, era bom se manter atualizada. Algumas linhas depois, identificou aquele nome que tanto escrevia em seus cadernos: Rodrigo Miranda Loureiro. O choque dela foi tão grande, que deixou sua xícara cair. Pegou um pano qualquer, limpando a sujeira, mas sem tirar os olhos do jornal. Pelo o que estava escrito ali, havia tido um acidente por volta das três, quatro da manhã. Ninguém morreu, apenas algumas pessoas feridas.
Enquanto trocava a roupa apressada, ia ligando para os hospitais perguntando se Rodrigo estava internado em um deles. Depois de tantas tentativas, finalmente a telefonista confirmou a pergunta.
Com uma calça jeans amassada e uma blusa qualquer, Laura entrou no carro e foi correndo para o hospital. Tentava ligar para Amanda, não queria ir sozinha ver Rodrigo. Mas ela não atendia, e Laura sabia muito bem porque, notou os olhares que um certo rapaz no bar direcionava para sua amiga.
Sem ter escolha, seguiu sozinha. Estacionando o carro, viu onde estava, um dos melhores hospitais da cidade. Entrou, percebendo a decoração do ambiente, ela sempre se interessara por essas coisas. Chegando no balcão, deu as informações necessárias, e ainda teve que se passar por noiva de Rodrigo.
Depois de ter trombado com umas três enfermeiras no corredor, chegou no quarto. 342. Entrou. Rodrigo estava dormindo. Ela não pôde deixar de notar os ferimentos no rosto e os pontos na cabeça, tirando uma das pernas engessadas. Se aproximando mais dele, pegou sua mão, lhe acariciou o rosto e fechou os olhos, em prece.
Sentiu sua mão sendo levemente apertada. Abriu os olhos, Rodrigo fitava-a surpreso:
- Olha quem está aqui...- disse em um tom descontraído, porém, com certa dificuldade.
- Oi! Como você está? Vim assim que soube e como não sabia o número de seus pais...
- Não- Rodrigo a interrompeu- Não quero que eles saibam o que aconteceu. Por favor, não diga nada.
- Bem... Fique tranquilo, pois da minha boca não sai nada. Mas torça para que nenhum jornal da cidade caia nas mãos deles ou que alguém ligue avisando-os com o jornal nas mãos.
- Saiu no jornal?!
- Aham...
- Droga!
Rodrigo percebeu que Laura olhava para baixo. Vendo para onde ela estava olhando, soltou a mão dela se desculpando:
- Óh, desculpe-me.
- Não, tudo bem...
Quando o silêncio estava prestes a vir, o médico entrou no quarto.
- Já vejo que estás melhor, meu rapaz!- disse o médico bem humorado. Tratava-se de um homem na casa dos 40 anos, com os cabelos já grisalhos e com um humor invejável.
- Olá Doutor!- ambos responderam.
- E você deve ser...- Doutor Lucanha, o médico, disse virado para Laura, entendendo-lhe uma das mãos para cumprimentá-la.
- Laura, a noiva!- nesse instante, Laura lançou um olhar para Rodrigo, daqueles Depois te explico.
- Vejo que és um rapaz de sorte, meu caro! Está difícil arranjar uma boa moça dessas hoje em dia! Se fosse você, não a deixava escapar!
Por mais que aquele assunto fosse meio delicado, todos riram.
- E Doutor, quando receberei alta?
- Vejo que tens pressa. Mas não se preocupe. Comparado às demais vítimas do acidente, você é o que está em melhores condições! Em cerca de dois, três dias, você receberá alta.
Doutor Lucanha terminou de examinar Rodrigo, se despediu com um leve sorriso no rosto e foi em direção à enfermaria.
Laura estava sentada em uma poltrona, não muito confortável, perto da maca.
- E que papo é esse de noiva, ein?
Ela riu.
- É que se eu falasse que fosse apenas tua amiga, não me dariam as informações certas. O povo daqui anda muito desconfiado.
- Percebi...
Soltaram um disfarçado sorriso e logo, a enfermeira entrou com a bandeja do café da manhã.
- Eaí? Servida? - Rodrigo disse, já colocando as torradas na boca.